domingo, 13 de março de 2011

O ENSINO DE DIREITO NOS ESTADOS UNIDOS

Prof. esp. Alcenisio Técio Leite de Sá

O texto é uma contribuição enviada por Ludmila Oliveira e Tarcísio Magalhães,estudantes do 7º período da Faculdade de Direito da UFMG, intercambistas na University of Wisconsin-Madison.

Em julho de 2008, recebemos a notícia de que havíamos sido aprovados no Programa de Mobilidade Discente Internacional do Departamento de Relações Internacionais da Universidade Federal de Minas Gerais para cursar o segundo semestre de 2009 na University of Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos da América.

Ficamos extremamente felizes, mas, ao mesmo tempo, receosos de como seria estudar em uma universidade em outro país, cujo sistema jurídico é tão diverso do nosso. Por se tratar de um país adepto do Common Law, optamos por cursar disciplinas relacionadas ao Direito Internacional, além de Direito Americano.

O meio acadêmico nos Estados Unidos é extremamente diferente do brasileiro: a faculdade, os professores, os alunos, o estilo das aulas, as formas de ensino e aprendizado, os métodos avaliativos e por aí em diante…

Vejamos:

Primeiramente, vale ressaltar que o curso de Direito é uma pós-graduação (chamada de graduation). Em outras palavras, é necessário ter um diploma de um curso de 4 anos (undergraduation) para ingressar na faculdade de Direito. O curso de Direito dura, em média, 3 anos e, a partir do 2 ano, a grade curricular é montada pelo próprio aluno.

Os professores - que, quase à unanimidade, não desempenham outra atividade que não a do magistério - sempre enviam, alguns dias antes do início das aulas, e-mails, para todos os alunos matriculados na disciplina, com o cronograma do curso (o syllabus), contendo todas as tarefas e leituras referentes a cada aula do semestre.

É obrigatório que todos os alunos leiam todo o material indicado para cada dia de aula; uma leitura bastante extensa, incluindo, muitas vezes, vários capítulos de um livro. O syllabus contem tarefas, inclusive, para o primeiro dia de aula. Por isso, uma semana antes das aulas começarem, a biblioteca fica repleta de alunos cumprindo suas respectivas tarefas agendadas para o primeiro dia.

O material didático é composto de Case books, isto é, livros com pouca explicação da matéria e muitos casos. Os alunos aprendem sempre com base em casos, pois o ensino jurídico americano é muito voltado para o caso concreto e o Direito na prática.
O ensino nas faculdades de Direito norte-americanas se baseia no método socrático, ou seja, os professores tendem a responder às perguntas dos alunos sempre com outra pergunta, estimulando a discussão e o debate, de modo a construírem, professor e aluno, o conhecimento juntos.

Diz-se que, nas salas de aula americanas, o professor e os alunos se encontram em pé de igualdade, ambos buscando aprender. Os alunos são constantemente incentivados a questionarem e a participação é sempre considerada na hora da pontuação.

Logo, as aulas de Direito nunca são expositivas, mas sempre discursivas. O professor ministra sua aula dirigindo perguntas aos alunos, as quais devem ser respondidas com base na leitura prévia. Por essa razão, as turmas são, em sua maioria, bem reduzidas cursamos uma matéria, por exemplo, na qual somente 10 pessoas estavam matriculadas).

Outra discrepância com o nosso sistema são os métodos avaliativos. Em primeiro lugar, as notas são dadas quase sempre em curva. Isso significa que a nota de cada aluno é atribuída em comparação com a do colega. Via de regra, somente 10% da classe pode obter conceito A, 25% B, 35% C, 30% D, alguns poucos sendo reprovados
Tal sistema proporciona uma forte competição entre os alunos. Cada um estuda com seus próprios materiais e ninguém empresta anotações, resumos ou similares, vez que, se um aluno ajudar o outro, estará se prejudicando.

Por fim, os alunos recebem suas notas contendo a posição na qual eles se encontram perante o restante da turma, ou seja, suas colocações em um ranking de melhores alunos. Isto é de extrema importância para os alunos de Direto, pois os grandes escritórios valorizam boas notas e contratam apenas os mais bem conceituados.
Os professores tem total liberdade para escolher como os pontos do semestre serão distribuídos. Alguns optam pela elaboração de artigos, outros mesclam artigos e provas escritas e ainda tem aqueles que decidem aplicar somente uma prova ao final do semestre.

Em função do próprio sistema jurídico norte-americano, os professores não levam em conta, na hora da avaliação, se o aluno decorou cada trecho do livro ou se gravou cada palavra dita em sala de aula. O relevante é que as respostas às questões nas provas e o raciocínio apresentado nos artigos sejam capazes de convencer o professor.
O que se busca desenvolver e aperfeiçoar é sempre a persuasão. Os alunos de Direito estadunidenses são treinados a ganharem casos, o que é feito provando ser seu argumento o melhor e destruindo o argumento adversário.

Finalmente, um aspecto que nos marcou é a estrutura fornecida pela universidade, principalmente para pesquisa. Existem 56 bibliotecas no campus, sendo muitas delas 24horas. As bibliotecas são equipadas com máquinas de xerox e scanners, cafeteria, computadores, máquinas de refrigerante e salgadinhos, sofás... Enfim, tudo o que o aluno possa precisar.

Além do vastíssimo banco de dados da própria universidade (para se ter uma idéia, é possível ler a Folha de São Paulo através do site da biblioteca, dentre outros milhares de jornais, revistas e artigos de toda parte do globo), existe ainda um convênio celebrado entre a University of Wisconsin-Madison e diversas outras universidades do mundo (inclusive a USP), por meio do qual o aluno pode encomendar, via internet, um livro que se encontra em outra biblioteca (no Brasil, na Europa, etc.) sem qualquer custo adicional.

Ademais, não há limite máximo de livros por aluno e as bibliotecas emprestam, além de livros, é claro, DVDs, jogos de video game e, até mesmo, notebooks e carregadores, tudo com a simples apresentação da carteira da biblioteca. Por último, existem equipes espalhadas pelo campus para auxiliar os alunos na elaboração de artigos e resolução de exercícios, corrigindo e dando dicas".
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Uma outra realidade ou um sonho para nós brasileiros. Fico perguntando-me, sem deixar morrer a esperança, quando será assim no Brasil?

NOVAS MUDANÇAS NO ENSINO JURÍDICO NOS EUA

O aperfeiçoamento na formação de advogados e a qualidade dos cursos superiores de Direito teve destaque esta semana nos EUA, em publicações e websites voltados à área jurídica. O tema ganhou atenção depois da divulgação do resultado de uma pesquisa feita por duas empresas de logística na área empresarial que assessoram bancas de advocacia, a ALM Intelligence e Practical Law Company (PLC).

De acordo com a pesquisa, apesar de a recuperação da situação financeira do país ainda ser lenta, escritórios de advocacia têm empenhado recursos em programas de treinamento para sócios e funcionários. Mais da metade dos profissionais consultados, entre eles sócios em bancas, advogados e profissionais da área administrativa, afirmaram que as empresas em que atuam tinham aumentado a quantidade de tempo dedicado a treinamento e programas de aperfeiçoamento profissional.

A pesquisa revelou ainda que grande parte das empresas estão comprometidas em implantar programas desse tipo. De acordo com os resultados, 58% dos escritórios que responderam à pesquisa adotaram programas formais de treinamento enquanto 34% o fizeram por meio de métodos ad hoc, ou seja, voltados para um fim específico, para desenvolver determinadas capacidades ou visando um certo resultado. Somente 4% dos entrevistados disseram que suas empresas não têm por costume investir em programas de treinamento e nem pretendem implantá-los.

A “Consulta para o Suporte de Escritórios de Advocacia e Desenvolvimento Profissional 2010” foi conduzida entre agosto e setembro de 2010, com o envio de um questionário a 7.546 empresas, sendo que 140 delas prestaram todas as informações solicitadas.

Universidades

O National Law Journal noticiou nesta quinta-feira (18/11) que o grupo, que há um ano se reuniu em Scottsdale, no Arizona, para discutir reformas na educação e formação de advogados nos EUA, finalmente elaborou um programa de ação para levar a cabo as conclusões a que chegaram na ocasião do encontro.

Com a participação de mais de 150 organizações, entre empresas de advocacia, juristas e especialistas em aperfeiçoamento profissional, a cúpula elaborou um documento que contém 16 recomendações que abrangem os mais distintos temas envolvendo a formação de um advogado. Entre as recomendações está o estabelecimento de um perfil de competências para o profissional de Direito, mudanças nos currículos das instituições de ensino, alterações nas regras de credenciamento para ensino à distância, criação de programas de treinamento junto às bancas de advocaica e até mesmo a substituição dos exames de ordem por um sistema de testes regulares a que deva ser submetido o advogado ao longo de um determinado período.

Um ano depois de se reunirem no estado do Arizona, o grupo agora entrou em fase de execução dos trabalhos, com a finalidade de colocar em prática as propostas listadas durante a cúpula. “Temos uma série de objetivos, mas há áreas-chave que são mais complexas e exigem mais trabalho para não se perderem na discusão”, afirmou ao The National Law Journal, Leslie Belasco, diretora de pesquisa e desenvolvimento do Instituto Americano de Direito vinculado à Associação Americana de Advogados (ABA). O instituto liderou, junto com a Associação de Educação Continuada para o Estudo do Direito, o encontro de um ano atrás.

Ainda de acordo com o National Law Journal, a intenção da equipe é também enviar uma série de recomendações ao comitê da Associação Americana de Advogados (ABA), que dá pareceres sobre o funcionamento de faculdades de Direito. As recomendações contemplam mudanças nas exigências para que instituições de ensino obtenham o credenciamento junto à associação.
Segundo, Leslie Belasco, serão necessários entre três e cinco anos para atingir a maioria dos objetivos estabelecidos durante o encontro.


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